A presença de letras, palavras, alfabetos, calendários e escritas de todo tipo é constante na produção de Rivane Neuenschwander, que instaura, assim, um diálogo sutil, preciso, e por vezes até físico com o universo literário, apontando para a existência de uma narrativa em potência em tudo que nos rodeia. Em As mil e uma noites possíveis (2006), por exemplo, os confetes de papel que, colados sobre um fundo preto, lembram estrelas a flutuar no céu noturno, são feitos furando as páginas de uma edição de As mil e uma noites. Como é sabido, no clássico da literatura árabe as histórias fantásticas e fascinantes contadas por Sherazade eram, também, a maneira dela manter-se viva. A estratégia da artista de Belo Horizonte é, de certa maneira, análoga: ao cortar e rearranjar os confetes ela dá nova vida ao livro, e sugere que em cada página (ou cada noite) existem inúmeras histórias possíveis.